Hop!
Sensacional texto de mais um leitor, colaborador e amigo de armas deste humilde espaço.
Quando recebo material tão rico quanto este (como todos os demais, a mim presenteados, pelos outros colaboradores), tenho a certeza que o esforço para que o Tactical Room cresça e se desenvolva, não foi em vão.
Prezado professor Sérgio, muito obrigado! Não imagina o quanto vibrei ao ler este belíssimo material.
Parabéns.
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"Um grito: Ei, acredite em mim!
Tenho ouvido dizer, agora com muito mais frequência do que antes, que as coisas não andam boas no Brasil. Não, não se trata de mais lamentação ou, pra ficar na moda, de mais mi mi mi. A coisa é concreta, é real.
Sabe, sou um quarentão. Vi o rock nacional explodir, fui a comício das Diretas Já, senti na pele o que era uma inflação de mais de 80% ao mês, assisti pela TV – ao vivo – a promulgação da Constituição de 1988, votei, aos 16 anos, na eleição de 1989 (primeira direta para presidente da república). Hoje sou professor universitário, e leciono a disciplina de Ciência Política. Logo o quê...
Enfim, tenho um pouco de vivência.
Em tempo mais recente, por gosto pessoal, me juntei ao tiro esportivo. E foi então que, mesmo depois de experimentar pagar 2% do valor do meu imóvel em taxa de registro ao cartório (preço de umas folhas de papel), mesmo depois de ser forçado a contribuir com o FGTS (poupança forçada sem rentabilidade),
mesmo depois de ter que pagar licenciamento e seguro obrigatório para o meu carro (ora, não paguei o IPVA?!); me vi num turbilhão de Estado.
A atividade esportiva de tiro não é nenhuma novidade. Regride ao aparecimento dele em si. Na Alemanha, o “Tiro ao rei” ainda é um marco. Nos EUA, a segunda emenda é considerada pela Suprema Corte daquele país como parte inalienável dos direitos fundamentais de qualquer cidadão. Na Suíça, os reservistas levam seu fuzil para casa, após a baixa nas forças armadas helvéticas. Em Israel, os militares portam fuzis, quando em folga, até na praia! E no Brasil?
Por aqui, o tiro nos deu nossa primeira medalha de ouro olímpico (Jogos da Antuérpia, 1920), com Guilherme Paraense. Mas, desde então, vem sendo desprestigiado, desrespeitado, humilhado. A resposta para tanto descaso e desprezo repousa em referências antropológicas, sociológicas e políticas.
Parte da Antropologia defende que o ponto de vista a ser considerado será o do universo daquele que é objeto da pesquisa. Explico: o pesquisador, para entender a cultura do pesquisado, não pode empregar os seus padrões de referência. Isso quer dizer que o elemento cultural é sempre relativo, dependente das circunstâncias vigentes em cada porção do objeto investigado. Dessa maneira, não há fórmula geral que remedeie a compreensão integral de qualquer cultura. Pois bem, e o Brasil com isso?! Nós padecemos de uma cultura que flutua ao sabor de modismos, de regramentos e processos culturais cujo dinamismo confunde gerações conviventes.
Em perspectiva sociológica mais fechada, nossa história republicana nos mostra que a sociedade brasileira, mantida alheia à educação e à autonomia, sempre precisou de um ícone de poder, um “timoneiro”, um tutor, uma autoridade. Nosso povo sempre foi desdenhado, sua capacidade negligenciada, seu ímpeto refreado. E tudo isso pela desconfiança do que um “gigante incapaz” poderia fazer “contra si mesmo”. Some-se a isso a natureza cordial dos tupiniquins. Não. Não sou apóstolo de que possamos viver a liberdade plena. Isso só valia no estado de natureza dos contratualistas. Existem cláusulas de convivência, e essas são sempre restritivas. O que pretendo dizer é: em nome de nossa segurança, acabamos presos.
A Política, por sua vez, nos informa que no Brasil a regra é o descrédito. Nossa prática política - legado do sistema burocrático português - sempre foi de não acreditar no ânimo, nas intenções e mesmo nas ações do cidadão. Dessa forma, o Estado ergueu castelos de empecilhos, obstruiu o crescimento, obscureceu as mentes, desfaleceu os espíritos e desencorajou nossa intrepidez.
Tornamo-nos pequenos, autômatos, tímidos, hesitantes e servis.
Qual o reflexo de todo esse panorama acadêmico na vida cotidiana? O esportista do tiro, para iniciar-se, precisa contar pelo menos vinte e cinco anos de idade, tirar quatro certidões negativas no Judiciário, uma junto à Polícia Civil, apresentar cópia de documento comprobatório de ocupação lícita, de capacidade técnica de tiro (curso) e de aptidão psicológica. Depois, far-se-á uma vistoria na sua residência. Não há prazo para a concessão do Certificado de Registro (CR) respectivo, além de ser um ato – na prática – discricionário por parte da autoridade competente (Exército Brasileiro, para os desportistas). Não vou me alongar sobre o procedimento de compra de arma de fogo, pois este não é meu objetivo agora.
Mais recentemente, conheci o airsoft. Modalidade esportiva que cresce brutalmente no mundo inteiro, até no Brasil, apesar da nossa burocracia (pausa...). Juntei-me a uma equipe muito bem conceituada nacionalmente, pelos padrões de honra, mérito e lisura que apresenta. Na verdade, mesmo tendo praticado outros esportes ou atividades, senti, pela primeira vez – apesar de quarentão – que fui abraçado por uma família, que se diverte junta, conversa, briga, treina, viaja, se ajuda. O airsoft é uma atividade que reúne, que cria laços fraternais, que não se importa com condição social ou econômica, e se edifica sobre dois pilares: força e honra. Isso mesmo: dois princípios básicos da vida coletiva, que parecem tão esquecidos.
No momento em que o órgão estatal regulador faz expedir norma que restringe ainda mais a prática do airsoft em nosso país, de forma súbita, não debatida, injustificável e abusiva, meu coração aponta para três lembranças: os mais elevados valores devem ser preservados, à liberdade deve corresponder a responsabilidade, e, finalmente, às pessoas de bem, devem enxergar-se aliados.
Perdoem o desabafo.
Fortaleza, 24 de julho de 2015.
Sérgio Borges Néry"
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Força & Honra!
Aranha
TACTICAL ROOM
Dinamismo I Integridade I Mentalidade
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